A lenda de Uropabá
Fomos presenteados pela Ortho Pauher, nosso parceiro e fornecedor de diversos produtos voltados à podologia, com uma caixa de madeira.
Dentro, constava uma estátua do Uropabá - “o ingrato, só lembra que tem pé quando ele dói” - e sua lenda criada por Allan Sales, em literatura de cordel.
A LENDA DO UROPABÁ
Diz o povo quando fala
No seu modo de contar
O cordel vem e verseja
É cultura popular
E assim ele desvenda
Esse causo que é lenda
Esse tal de Uropabá
Mais cem anos pra lembrar
Este causo assim que é
O real e a fantasia
Onde fica nossa fé
Se é lenda ou verdadeira
A história aqui inteira
Da cabeça até o pé
Fala de um coroné
Donos de canaviais
Abastado muito rico
Muitos eram seus metais
E assim tanta riqueza
Tinha ele com certeza
Muitos bens materiais
E mostrar que tem demais
Essa tal de ostentação
Barbeado todo dia
Vaidoso muito então
Ouro prata os seus brios
Viajando em navios
E um monte de mansão
Casa grande de barão
E cavalos de corrida
Tinha muitas namoradas
E uma esposa entristecida
Era dono de riqueza
Mas também tinha avareza
E ganância desmedida
Sua grana era investida
Neste ofício de ostentar
Tudo aquilo que o dinheiro
Podia proporcionar
Mas que sem sabedoria
Tudo perde tal valia
E em vão pode quedar
Vestir bem se apresentar
A questão que ele fazia
Trajes de um puro linho
Com capricho se vestia
Diamantes joias ouro
E sapatos bons de couro
Nisso bem se comprazia
No entanto algo fazia
Que estranheza assim causava
Não cuidava bem dos pés
Desleixado assim ficava
Unhas grandes fedorentas
E assim bem purulentas
O seu calcanhar rachava
Um mal cheiro que exalava
Ele nem aí ligando
Unhas podres encravadas
O seu par de pés penando
E assim um homem rico
Com os pés pagando mico
Foi assim se explicando
Esse coronel falando
O valor que algo teria
Dependia tão somente
Se mostrando então seria
Se pé tivesse valor
Com cabeça, que horror
De lugar que trocaria
E com essa teoria
Uma lógica esquisita
Muito rico de pés sujos
Não botava eles na fita
Quem do corpo assim caçoa
Natureza não perdoa
Deixa muita gente aflita
A besteira que foi dita
Quem ousou contrariar
Ele tinha muita grana
Gostava de se mostrar
Mas corpo é natureza
Essa conta com certeza
Há de um dia assim cobrar
E assim por descuidar
Os seus pés adoeceram
Numa noite em seu engenho
Coisas ruins aconteceram
Pôde ele constatar
Tantos anos sem cuidar
Os seus pés apodreceram
Larvas que apareciam
E depois a infecção
Para não mais usufruir
Da fortuna de ricão
Os seus pés que o carregaram
Que assim deterioraram
Por desleixo e presunção
De que vale ter milhão
Se saúde não se tem
Ele soube tristemente
O valor que vai além
O que havia conquistado
Ele ali prejudicado
Percebeu isso também
Ter milhão ou ter vintém
Todos nós somos iguais
Tudo é casa e efeito
Pois as leis são naturais
Seja rico seja pobre
Tenha ouro ou nenhum cobre
Todos nós meros mortais
Dono dos canaviais
Nesta noite faleceu
O seu corpo infestado
Sucumbiu e pareceu
Mas por sua afoiteza
Foi ingrato com certeza
Um castigo recebeu
E assim aconteceu
O cordel vem relatar
O seu pé sua cabeça
Que trocaram de lugar
E virou alma penada
A vagar pela noitada
Por aí a assombrar
E pôs a vagar
Como tal assombração
Dizem na zona da mata
Onde faz a aparição
É Uropabá seu nome
Que adquiriu renome
A causar medo e aflição
Uma lenda com razão
Ali foi aparecer
O Uropabá vagando
Pela noite a gemer
A pagar a penitência
Pela sua negligência
Quando tudo pôde ter
E assim foi acontecer
Pessoas bem assustadas
A fechar as suas portas
E em casa ali trancadas
Escutando seus gemidos
Que nos passos são seguidos
Quando faz tais caminhadas
As crianças ensinadas
A lavar seus pés então
Para não ficar iguais
Usam água com sabão
E assim não vai ficar
Como o Uropabá
Que virou assombração
Muito rico ter quinhão
Por saúde ter desdém
Nosso corpo é sagrado
Vale tudo que contém
Seja pé seja cabeça
Aconteça o que aconteça
Cuide de tudo faz bem
Alma e corpo também
Di um verso no papel
Pra cuidar no mesmo modo
Não ser como o coronel
Cante lá que eu canto cá
Causo do Uropabá
Finda aqui o meu cordel.
FIM
Ficamos muito animados com o projeto, que faz parte da nossa cultura brasileira e nordestina. Parabéns aos criadores e muito obrigado pelo carinho. A estátua e o livreto se encontram em nossa recepção, para servir de exemplo a todos.